Hoje, eu acordei e, em vez de sair pelo lado direito da cama, como o habitual, parei um minuto para pensar em como seria o meu dia se eu fizesse tudo ao contrário. Bom, o que me prendeu por alguns instantes foi a existência de um ditado que se refere ao mau humor de um ser, quando o mesmo não “levanta com o pé direito”.
Minha curiosidade me foi suficiente para testar. Virei-me para o outro lado da cama e lancei meu pé esquerdo recém podado (havia visitado o podólogo no dia anterior) em direção àquele chão gélido, à espera de encontrar pantufinhas de princesa para aconchegá-lo.
Mas as tão sonhadas pantufinhas (leia-se havaianas de dez anos atrás) haviam ficado do lado direito da cama, certamente. Primeira decepção do dia: calafrios. Essa eu podia superar. Resolvi, então, sentar-me em uma cadeira que não fosse a minha na cozinha, para deliciar a minha refeição preferida, a qual, infelizmente, eu saboreava rápido demais, pois tinha aula. Daí, eu esqueci a reportagem que passava na tevê e mergulhei fundo nos meus pensamentos quentinhos.
Quantas vezes eu fazia sempre a mesma coisa todos os dias? E não me refiro só a levantar pelo lado oposto da cama ou sentar em um lugar diferente do de costume. Mas, pense um pouco. Aquela velha música dos Titãs é de extrema validez para este momento de reflexão.
“Devia ter arriscado mais”. De fato! A gente sempre faz as mesmas coisas diariamente, reclamamos da nossa estabelecida rotina e o que fazemos para mudá-la? Nada. Apenas acostumamos nosso corpo e nosso cérebro que tem de ser assim. Quando não se tem tempo, rezamos pelas benditas férias, e quando estamos de férias, do que resmungamos? De não se ter nada para fazer.
Nunca estamos satisfeitos, isso é verdade. Porém, raramente temos a atitude de levantar com o pé esquerdo para mudar o curso dessa história. Por que não nos darmos férias no meio dessa rotina insana? Por que não acordar e pensar “tenho mil coisas para fazer, mas hoje vou pegar meu carro e deixá-lo me levar até onde a gasolina der.”? Por que não levar seus estresses para afogar no mar, enquanto acompanha o Sol pronunciar seu adeus até o próximo dia?
Eu tenho uma resposta. A gente se agarra demais nessa rotina e temos medo das conseqüências que uma mudança possa trazer a nós.
Lembre-se que apenas com essas alterações, com as decepções e desilusões, o aprendizado humano se torna mais profundo. Uma mudança que nos traz conseqüências ruins jamais será esquecida ou repetida. E uma mudança boa será incluída no seu velho dia-a-dia, para lhe dar uma cara nova e diferente.
E permita-me lhe dar ainda outro conselho. Deixe para pensar essas coisas à noite, quando estiver deitado e preparado para dormir. Ou senão você chegará atrasado à aula.
Ah, droga.
Beatriz Noele