sexta-feira, 6 de fevereiro de 2009

Não sei o que eu quero dizer com isso


Então você quer mesmo saber?

Aquilo foi uma fuga.

Fugi. Fale que foi porque precisei e não havia mais outro jeito. É como eu prefiro que seja dito.

Precisei ver-me longe, cabeça alforriada, tronco e membros leves. Leves e livres da vida que eu os obrigava a ter.

É que essa vida, aquela do dia em que parti, já não me vestia mais. Sentia-me tristemente justa, quieta e sem fôlego. Peitos saltavam fora, esfolados. Barriga estreita, postura oblíqua e traseiro murcho. A pele sem cor - descobri depois - era culpa do sangue circulando errado, perdido feito meu juízo. Esmagada, tinha todo o meu corpo inútil, preso em si.

Optei por novas vestimentas. Largas, com cores em guerra e cortes improváveis. Umas que fossem – e foram - capazes de me fazer solta dentro de tantos laços e cadarços.

Entenda, portanto, que as lançar sobre este corpo oco, acompanhando-as cair-me bem, foi irresistível. E elas caíram firmes, certeiras, sem obedecer às previsões, aos desenhos ou aos contornos pré-estabelecidos. Eu era, finalmente, apenas um esboço de convicções tolas. Natural como a nudez. Palavra dessa modinha cafona? Esperança.

Não precisa esquecer-se entre cantos pensando e tendo medo por mim. Não por isso, não agora. Cuide só do que é seu que eu me prefiro só, só de mim. De mim definitivamente. Diga que eu não precisava de outras cores e de casas vizinhas para fazer-me minha, que eu concordo com você. Mas se livre ligeiro dessa mania de buscar -e, se o caso for, inventar - um sentido para toda coisa que lhe aparece. Faça um embrulho com esses sentidos e o ofereça às mãos do seu futuro. Tão previsível e finito quanto o meu. Quem sabe ele aceita e gosta e usa em alguma hora.

Porque o meu se nega. E porque eu me sinto cheia de sentidos, sentidos para uma vida comprida inteira, mas nenhum deles explica coisa alguma.


Rafaela Fernandes

2 comentários:

Unknown disse...

Ainda que não tenha sido escrito para fazer sentido, faz.
E é, de longe, o mais birrento de todos os que você já produziu.

Versátil, você!

Beijos

Beatriz Noele disse...

Ah
Ainda que não faça sentido, acho que entendi a essência por trás da cobertura.

Muito birrento, de fato. Super próprio para este blog.